Nas últimas semanas, vi um país espantado e incrédulo a olhar para um filme amador que relatava uma situação autêntica, vivida numa sala de aula de uma escola do Grande Porto. Uma professora de francês tenta retirar o telemóvel a uma aluna. Esta insurge-se contra a atitude da docente e num tom agressivo e completamente desadequado, exige que o seu Nokia lhe seja imediatamente devolvido. Daí até as duas protagonistas se envolverem numa disputa física pela posse do telemóvel, passaram uns míseros segundos. Tudo isto com uma plateia composta pelos restantes alunos da turma, ávidos de sangue, que além de incentivarem a atitude da colega, ainda arranjaram tempo para filmar tudo.
Ora as reacções a este triste acontecimento apareceram envoltas em espanto e revolta. Mais do que a situação em si, espantaram-me duas coisas: a estupefacção com que estas imagens foram recebidas pelos portugueses e a atitude da professora.
Devo dizer que, independentemente de não conhecer o tipo de relação existente entre a turma e a professora, me parece de todo ridículo que uma professora se envolva num confronto físico com uma aluna no meio de uma aula. Isto porque, pensar que a afirmação de um professor perante a turma se pode fazer à custa da imposição da autoridade é ridícula e leva a casos como este. O professor impor-se-á na turma graças aos seus conhecimentos científicos, às suas práticas pedagógicas e ao ensino/prática das mais elementares regras cívicas e democráticas. E quando se depara com situações de indisciplina gritante, como foi o caso, o professor tem já ao seu dispor um role de procedimentos que lhe permite resolver a situação rapidamente e continuar com a aula calmamente.
Relembro que a figura do mestre-escola morreu há uns bons 30 anos e não conheço ninguém, se excluirmos aqueles “velhos do Restelo” que dizem à boca cheia que no tempo deles é que era bom, que queira voltar a esse tempo.
É certo que a classe docente vive um momento de algum descrédito público, fruto da contestação com que tem recebido algumas medidas governamentais e da forma como reage ao terrorismo verbal de um ministério da educação que peca pela falta de bom senso e inteligência. No entanto, referir que o "filme" da Carolina Michaelis é fruto desse actual descrédito é ignorar situações parecidas que já tiveram lugar no passado, em que a única diferença, comparando com o momento presente, seria a inexistência de telemóveis tão sofisticados.
Sobre a aluna, que ao que parece será transferida para outra instituição de ensino, dizer apenas que naquele momento personificou toda a formação cívica e comportamental que foi recebendo ao longo da sua vida, ou seja, nenhuma. E essa seria, em primeiro lugar, uma responsabilidade dos pais.
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